quinta-feira, 9 de junho de 2011

Conheça os bastidores da Quadrilha Zé Testinha

Por Ticiana de Castro - DN

Todo dia é São João para os integrantes da família Rogério, responsável pela Quadrilha do Zé Testinha. Há 35 anos, eles preparam cada aspecto da dança e, por meio dela, propagam a cultura nordestina

Foto: Silvana Tarelho
Em um terreno escondidinho, no final da Travessa Riachuelo, a numerosa família Rogério, conhecida por compor a tradicional Quadrilha do Zé Testinha, se divide em residências, que mais parecem casinhas de interior e, ali, respiram a cultura dos festejos juninos o ano inteiro.

Reginaldo (o próprio Zé Testinha) e seu grupo são íntimos da história do matuto sertanejo, reverenciado em suas danças, e, quando fecha a temporada de junho/julho, já estão pensando no que vão apresentar na quadrilha do ano seguinte.

Nada do que Reginaldo critica como "glamour estilizado". "Muitas quadrilhas pecam pelo excesso de pedrarias e babados. Algumas possuem estátuas e até carros alegóricos! Cada quadrilha deve ter um compromisso com sua formação cultural. Eu e meus irmãos somos de Banabuiú e meu pai de Itapajé. Passamos a nossa infância estudando na cidade e indo para o sertão nas férias. Procuramos mostrar nossas referências na dança junina", explica.

Reginaldo também educa os brincantes a não esquecer que a quadrilha é uma homenagem ao nascimento de São João Batista. E é completamente contra a ideia da escolha de uma temática para a Zé Testinha.

A irmã mais velha, a educadora municipal e costureira do grupo, Leda Rogério, 51, completa: "Quem foi que disse que quadrilha tem que ter tema? Precisa de identidade, zabumba, sanfona e triângulo".

Bem que quiseram rotulá-los, já que costumam trabalhar com o elemento do cangaço. "O cangaceiro é uma representação do nordestino. Muitos não sabem, mas ele era um homem simples do campo e de muito temor a Deus", explica o líder do grupo.

Sobre as apresentações deste ano (a primeira oficial da Zé Testinha acontece, neste sábado, na Lagoa do Opaio, no bairro Vila União), Reginaldo antecipa que contará a história dos cangaceiros da região de Várzea Alegre, onde os pais de Lampião costumavam andar.

Os mesmos integrantes que representam o cangaço, surgem, em determinado momento, com os vestuários juninos. Esta é a segunda fase da quadrilha, que costuma gastar 30 minutos em uma apresentação.

Preparação

Desde janeiro, os 52 brincantes da Zé Testinha ensaiam para os festejos juninos. Enquanto às quartas e aos sábados treinam os passos, aos domingos fazem os ajustes das próprias roupas.

Os meninos se reúnem para confeccionar as perneiras, além de fabricar as armas e balas com restos de madeira e fazer o acabamento com facas, verniz e sprays. As garotas também se envolvem no processo, auxiliando as costureiras Leda Rogério (responsável pelo corte e montagem) e Meire de Brito (costura). "Procuramos manter, nos vestidos, os elementos tradicionais como a sianinha, a fita, o bico de renda, o chitão e a chitinha. Este ano, inovamos com o uso do viés, que quebra a sequência das cores e oferece acabamento especial às saias dos vestidos", explica Leda Rogério.

A dupla de costureiras começa a trabalhar nos figurinos por volta do mês de março. Precisam de tempo para preparar 108 roupas, sendo 28 pares para a quadrilha adulta e 26 para a infantil. As profissionais reaproveitam muitos materiais das apresentações anteriores, mas procuram inovar.

Segundo a brincante Sheila Cavalcante, 21, o vestido deste ano é mais leve do que o de 2010. "Possui menos babados e camadas, ficando mais fácil de nos movimentarmos", diz.

E quanto às regras na época junina? Reginaldo explica que é preciso disciplina para que tudo saia em harmonia. "Casais de namorados não podem dançar juntos. E se brigam? Acabam atrapalhando todo o grupo. Também não aceitamos bebida alcoólica e estou batalhando para cortar o cigarro. Fora isso, oriento para que bebam muito líquido e comam banana, que evita cãibras".

A criançada também tem suas regras. "Só aceitamos crianças que estejam frequentando o colégio. Os estudos não podem ficar em segundo plano".

Segundo Reginaldo, o mais importante, para a Zé Testinha, não são os troféus conquistados, mas o trabalho social que a quadrilha realiza no bairro de Fátima e redondezas. "Já conseguimos dar um novo significado de vida para muitas famílias por conta da quadrilha. Essa é a nossa principal missão".

"Nordeste Caboclo"

Outro desafio da Zé Testinha é participar da 1ª Eliminatória do Festival de Quadrilhas Juninas do programa "Nordeste Caboclo", da TV Diário. Ela irá concorrer com mais oito quadrilhas, escolhidas de acordo com o ranking do Festival de Quadrilhas Juninas do Ceará 2010. Segundo a produtora do dominical, Thyenna Karen, cada eliminatória conta com três quadrilhas e serão exibidas nos dias 12, 19 e 26 de junho. Além da Zé Testinha, que concorrerá no dia 26 (outros nomes a confirmar), participam Quadrilha Arrasta Pé do Sertão, Quadrilha Explosão Cearense e Arraiá Amor e Vida (12) e Filhos do Sertão, Coração Sertanejo e Beija Flor do Sertão (19). As quadrilhas serão selecionadas por um júri e concorrerão à final, realizada no dia 3 de julho. A campeã ganhará um troféu do programa. O "Nordeste Caboclo" é exibido todos os domingos, a partir das 11h, na TV Diário.

TICIANA DE CASTRO
Repórter

Diário do Nordeste - (Clic e veja mais fotos e matéria completa)

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