Moradores da zona rural de Quixadá reclamam da interrupção no abastecimento de água para beber
Quixadá. Quando o fim do ano se aproxima, os efeitos da seca se agravam no semiárido. Em Quixadá, um dos maiores Municípios do Centro do Estado, a situação não é diferente. A carência por água principalmente potável, para o consumo humano, aumenta. Sem água nas cisternas, com os barreiros e os pequenos açude secando, a única salvação é mesmo os carros-pipa. Todavia, a assistência emergencial vem sendo interrompida constantemente. Mais uma vez o abastecimento está sendo cortado neste Município.
De acordo com o secretário de Agricultura Familiar e Desenvolvimento Rural de Quixadá, Ereni Tavares de Lima, mais conhecido por "Capitão", um membro da equipe do Exército responsável pela Operação Pipa manteve contato telefônico informando sobre a paralisação do programa. Mais uma vez milhares de famílias vão sofrer. Elas dependem exclusivamente da água dos carros-pipa para matar a sede. São 90 comunidades passando por dificuldades. As paralisações são constantes. Costumam ocorrer sempre nos primeiros 10 dias de cada mês. A desculpa é sempre a mesma: falta de repasse de recursos.
Sequidão medonha
Se faltam recursos para o Exército atender o programa, os moradores da localidade de Várzea da Onça, a pouco mais de 20km do Centro de Quixadá, são obrigados a desembolsar pelo menos R$ 1,00 para cada litro de água quando o carro-pipa não aparece. "Numa sequidão medonha dessas, fazer uma covardia dessas com a gente é mais do que castigo, é judiação", desabafa o agricultor Francisco Ribeiro Lima, obrigado a bancar do seu aposento para não morrer de sede. O presidente da associação comunitária daquela localidade, Hegemiro de Lima, está revoltado. Além dele, outras 150 famílias dependem exclusivamente do amparo dos carros-pipa. São pobres. Não têm como pagar pela água, nem mesmo utilizando o dinheiro oriundo do Bolsa Família.
A situação se torna mais grave porque o aviso da paralisação chega de surpresa. Não dá nem para se precaver e guardar um pouco mais de água em casa. Ele está revoltado.
Não bastasse a inconstância no abastecimento das comunidades incluídas no programa emergencial, outras 49 aguardam inspeção da Defesa Civil do Exército. O assentamento da Lavoura Seca, a pouco mais de 15km do Centro de Quixadá, e uma deles. As 50 famílias ali acampadas não enfrentam situação pior porque receberam 113 garrafões de água mineral.
Conforme um representante do grupo, Maciel Oliveira, a doação foi feita pela Cruz Vermelha, mas restam apenas 27. Não serão suficientes para atender a todos, dentre eles 37 crianças e três mulheres grávidas. Dentro de uma semana, conforme preveem, a água vai acabar.
Segundo o coronel Felipe Ribeiro, assessor de comunicação da 5ª Secção da 10ª Região Militar, as paralisações no Estado são pontuais. Decorrem de razões alheias à vontade as 10ª RM e de suas Organizações Militares (OMs). A falta de carros-pipa para entrega de água e problemas de potabilidade dos mananciais são algumas delas. "No momento há paralisações apenas nos municípios de Fortim e General Sampaio, em decorrência da falta de carros-pipa", esclareceu o oficial do Exército.
Quanto às 49 comunidades de Quixadá que ainda aguardam inclusão no Operação Pipa, o coronel Felipe Ribeiro informou que, no dia 5 passado, uma comitiva deste Município, chefiada pelo vice-prefeito Airton Buriti, foi recepcionada pelo comando da 10ª RM. Na oportunidade solicitaram a ampliação do programa.
O atendimento dependerá de diversas condicionantes técnicas, dentre as quais, condições de acesso das estradas e de carros-pipa. Outros 39 municípios do Ceará também estão na lista.
Conforme dados do Exército Brasileiro, são pagos em média R$ 3,50 por cada quilômetro de transporte de sete mil litros de água, da fonte ao destino final. Hoje, no Ceará, estão sendo utilizados 531 carros-pipa. Estão atendendo 120 municípios, beneficiando 596.911 habitantes. Nesses números não estão incluídos os 39 municípios onde o Operação Pipa é aguardado.
O Exército não informou o valor do repasse feito pelo Ministério da Integração Nacional para manter o programa federal no Estado.
Enquete
Reclamação
"A água é essencial para a sobrevivência de qualquer ser vivo. Antes de cortarem o abastecimento, deviam pensar nisso"
Lúcia de Fátima Alves de Sá
66 anos
Agricultora
"Sem água para beber não há quem aguente. O jeito foi correr para a cidade. Às vezes, lá falta, mas a gente sabe que tem"
Raimundo Nonato Carolino
44 anos
Agricultor
MAIS INFORMAÇÕES
Defesa Civil de Quixadá
(88) 3412.2850
10ª Região Militar - Operação Pipa
(85) 3255.1673
ALEX PIMENTEL
Diário do Nordeste
Diário do Nordeste
0 Comentários:
Postar um comentário