sexta-feira, 19 de novembro de 2010

MAIS UMA CAÇA ÀS BRUXAS

Opinião e Ação
Por Getulio Freitas

Imagem da internet
Ultimamente a perseguição ao ENEM tem revirado meus pensamentos e me feito lembrar o puritanismo americano quando promoviam a caça às bruxas, pois segundo princípios sociais vigentes, elas eram criaturas infernais, apóstatas e causavam mal ao povo, sendo capazes de invadirem sonhos, adoecerem crianças, proferirem encantos, quebrantos e dentre outras peripécias que só existiam em suas pérfidas mentes. Na verdade muitas eram apenas mulheres independentes, solteiras, e lidavam com ervas curativas e dentre outras práticas que se não era conhecida era diabólica.

A sociedade sempre perseguiu aquilo que não conhecia e aquilo que não estava de acordo com seus padrões culturais, pois do contrario é imoral e em nome da moral e dos bons costumes, sempre promovem “pequenas caças às bruxas”. Bem sabemos que estes exageros muitas vezes, servem para mascarar algo que não pode ser revelado, e vive então para fundamentar a hipocrisia dos mesmos.

O que cheira mal nesta historia, não é a atitude da juíza cearense, que por sinal, tem causado muita polêmica. O que me cheira mal é o circulo midiático alimentado por alguns grupos, que se formou em cima dos erros do processo.

É bem sabido que em quase todo o vestibular, sempre há alguma questão que é cancelada ou um erro ou dois que é revisto pela comissão de aplicação e nunca vi, diante do exposto, questionamentos à faculdade ou considerarem em detrimento disso o vestibular como um fracasso.  Veja isso como algo em nível de estado, logo de pequena abrangência em relação ao nacional. Assim um exame da proporção do ENEM não estaria passível a erros?

Vale ressaltar que este exame surge inicialmente com a proposta apenas de avaliar a qualidade do Ensino Médio no país, no entanto logo cresceu e passou a abordar algo interessante, que nunca tinha sido abordado antes, a eficiência dos métodos de seleção das universidades. O vestibular ainda é um processo que não mede conhecimento e muito menos atende ao que verdadeiramente se propõe. Já conheci pessoas que passaram neste processo e muito menos tinham capacidade de desenhar um círculo, salvo se utilizassem a máxima do antigo provérbio que não me convém citar aqui.

O interessante deste exame é que ele passa a detectar potencialidades e competências ao invés de medir conteúdo, em vista do fracasso e disparidade entre realidade e métodos de ensino utilizado atualmente. Os matemáticos poderão discordar, mas me responda então, por qual motivo terei que aprender a utilizar a formula de Bháskara se não for para resolver algumas equações e depois passar no vestibular e provar para a faculdade que aprendi a utilizá-la? Que utilidade prática ela tem para o filho do agricultor que ao chegar da escola pega sua enxada e irá capinar com o pai?

Não digo aqui, que conhecimentos como estes não são necessários ao currículo e ao portfólio de cada um. Eu seria insano se desdenhasse de todo o conhecimento acumulado pela nossa sociedade ao longo dos tempos. Mas ele não esta sendo colocado meio fora do contexto e da realidade? Seria isso o motivo da falta de interesse pelo ambiente escolar pela maior parte dos alunos? O que dizer então de “colégios fabrica” de passadores de vestibular?  Sim! Daqueles que colocam o banner gigantesco nas avenidas e dizem “15 passaram na UFC”, ou “primeiro lugar em medicina na UFC, ou na UECE”. Não se iluda, e veja o quanto de conhecimento estas fabriquetas põem em seu filho e quão capaz de modificar a sociedade e transformar isso em saber eles serão. 


Getulio Freitas
Bacharelando em Administração pela Universidade Federal do Ceará - UFC. Bacharelando em Gestão Ambiental pela Universidade Metodista de São Paulo, Funcionário de empresa Privada e ex Diretor Geral da Associação Serrazul.

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