quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Entre o profano e sagrado, Ocara celebrou dia de finados com muito forró

Por Gisele Dutra
As pessoas frequentaram o cemitério à noite, para fazer orações.
Tradição começou com leilão para arrecadar fundos para muro de cemitério. População se divide entre o terço das almas, missa no cemitério e shows.
Há quase um século, os moradores do município de Ocara, preferem não chorar no dia de finados. A festa das almas, que aconteceu de ontem para hoje, teve antes o terço das almas, seguido por uma missa no cemitério da cidade, e foi encerrada na madrugada de hoje com uma grande festa de forró na praça principal. "É o evento mais esperado do ano. É uma parte cultural de todos os moradores", afirmou a professora Jhely Lopes, 23 anos. Moradores comentaram que é costume ir ao cemitério à noite visitar os que já partiram dessa para uma melhor.

A professora garante que não tem medo de "magoar" os mortos e que gostaria de ter ido ao terço, mas os preparativos para a festa à noite, "não deixaram". Na ocasião da festa, ela explicou que encontra todos os amigos da cidade e os de fora também."O pessoal vem visitar os parentes já mortos e aproveita para encontrar os vivos", explicou.
O estudante Thelmon Carvalho, 21 anos, foi ao show das bandas de forró à noite, mas disse não se arriscar dar uma passada pelo cemitério. Ele garantiu que não tem medo. "Há uns dois anos passei de carro e vi um negócio branco, um vulto. Mas nunca ouvi falar nessas coisas", lembrou. O pai dele, professor José Wilame, 50 anos, disse ser uma questão religiosa, um ritual. "Em cada país existe a sua religião. Nós somos católicos. Mas, para isso aí eu sou meio descrente. Não acredito em ver almas", afirmou.
Wilame lembrou que tocava guitarra em uma banda de forró na festa das almas, década de 1980. "Eu tocava um pouquinho porque meia-noite tinha a música lenta", recordou. O professor, que permaneceu na varanda de um amigo durante a festa, disse ser polêmica a realização da festa, mas que a população em geral gosta."A véspera de finados aqui é comemorada com festa. O pessoal aceita bem, mas tem gente que questiona. Mas toda festa religiosa existe o profano e o religioso", defendeu. A festa, segundo a organização, faz parte do calendário cultural da cidade.
Cemitério sem muro
O prefeito de Ocara, Leonildo Peixoto (PSD) explicou como começou a festa das almas, na década de 1920. De acordo com ele, o cemitério da cidade não era cercado e, segundo o prefeito, há uma tradição católica apostólica romana de que cemitério tem de ter muro. "Uma liderança religiosa da época, o Pai Dodó, notou que na véspera de finados havia uma aglomeração de gente, a pé ou a cavalo, com velas. E ele teve a ideia de fazer um leilão para arrecadar dinheiro para construir o muro".
O leilão, relatou o Peixoto, acabou virando tradição e se transformando em festa todo dia 1º de novembro, dentro da mística sertaneja e católica. Segundo o prefeito, são esperados todos os anos cerca de 50 mil pessoas para os festejos. Por volta das 18 horas, as pessoas se reunem em frente à igreja matriz para rezar o terço das almas e seguem até o cemitério. "No pátio do cemitério, o padre reza uma missa. E o comércio do lado de fora também fica efervescente", afirmou.
Após a missa, na praça ocorrem às apresentações culturais, inclusive de escolas, feira de artesanato e comidas típicas. "Tem reisado, dança, cordel", disse o prefeito.
Para o prefeito, que mora há 11 anos no município, a festa das almas celebra a vida e representa um encontro dos moradores de Ocara com os que partiram. E ainda estão vivos. "Não é que se tenha medo da morte. Se comemora por estar vivo", disse.
"Tem o lado profano, mas tem o lado sagrado. O cemitério de Ocara passou a noite lotado. As pessoas frequentaram o cemitério à noite, para fazer orações. Foi algo incorporado pela população", garantiu.
Com informações do G1 Ceará.


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