sábado, 23 de outubro de 2010

Programa fortalece valores da zona rural entre jovens de Ibaretama

Aulas práticas se destacam em atividade de formação escolar profissional de alunos no Sertão Central


Foto: Alex Pimentel DN

Ibaretama. Uma prática considerada relevante para a compreensão dos ensinamentos além dos muros da escola está transformando a mentalidade de jovens inseridos no Projovem Campo, um programa federal destinado a quem vive na zona rural, não concluiu o ensino fundamental e tem entre 18 e 29 anos. Turmas de Pedra e Cal e Canafistula, comunidades de Ibaretama, no Sertão Central, estão reencontrando o gosto pelos estudos e o amor à terra nas aulas de campo ministradas pelo técnico agrícola Ednaldo Calixto.


Durante a semana, os alunos aprendem Linguagens e Códigos, Ciências Humanas e da Natureza. São aplicadas em conjunto com a disciplina de Ciências Agrárias. Nos fins de semana, aos sábados, as aulas são praticamente nos quintais das casas, nas áreas onde os alunos residem. Os aprendizes já estão desenvolvendo práticas de manejo de solo, a aplicação de compostos orgânicos nos plantios, o aproveitamento dos recursos hídricos existentes nas comunidades, melhoramento das pastagens e desenvolvimento da ovinocaprinocultura.

O instrutor do Projovem Campo saiu da Nova Jaguaribara, uma cidade da região jaguaribana erguida às margens do Açude Castanhão, para se dedicar ao modelo de formação voltado para a agricultura familiar. No relacionamento simples, sem a barreira do intelectualismo, conquistou a confiança dos alunos. Enquanto ensina, também aprende. Agora, no fechamento do primeiro ano de atividades, comemora os resultados com os outros professores. Ninguém pensa mais em ir embora e o número de alunos até aumentou. O projeto permite a participação de 25 por turma, mas na localidade de Pedra e Cal 36 estão inscritos.


Mudança


O agricultor Reginaldo do Nascimento abandonou a 5ª série em 2003. Desde então, não sentia nenhum estímulo em continuar os estudos. Também chegou a abandonar sua terra natal. Foi embora para Aracati com a esposa e os dois filhos. As dificuldades e a exploração fizeram eles voltarem. Sem perspectivas de melhoras estavam arrumando as malas novamente quando a turma do Projovem Campo bateu à porta deles. Hoje, o casal mora pertinho da escola de Pedra e Cal. Os filhos estudam de dia, eles à noite. Os tempos estão melhorando.

A agricultora Francisca Edilene Nascimento, mãe de dois filhos, também estava disposta a ir embora. Ela não pretendia ir muito longe, apenas mudar para um lugar mais urbanizado. Mas os ensinamentos do técnico agrícola lhe abriram novos horizontes. Estavam bem à sua frente, na Unidade de Técnica de Demonstração (UTD) implantada na comunidade de Canafístula. Faltava apenas conhecimento para enxergá-los. Agora só falta mais um ano para concluir o programa e receber certificado técnico e também o diploma de conclusão do Ensino Fundamental, abandonado em 2001.

O coordenador do Polo de Quixadá do Projovem, Francisco Júnior Maciel da Silva, está empolgado com os resultados do primeiro ano de atividades do programa, comemorado ontem. Para ele as habilidades do instrutor de campo fazem diferença no desenvolvimento do aprendizado e no interesse dos participantes. Ao invés do abandono, corriqueiro do ensino de base, alguns jovens participam como observadores. Eles não recebem o bônus bimestral de R$ 100,00 destinado a quem foi inscrito regularmente no programa. Segundo a professora de Ciências da Natureza, Irismar da Silva, com as atividades no campo, o ensino se tornou mais fácil. No início as aulas eram um pesadelo. Facilidades apenas na Matemática. Medir terras e contar animais fazem parte do dia a dia na roça. Os alunos se sentem mais à vontade quando estão com a enxada na mão.

Outra docente do programa de elevação da escolaridade e qualificação social e profissional, Elisângela Santiago, das Ciências Humanas, aponta a leitura como a principal dificuldade. Voltar a aprender a ler e a escrever após anos sem pegar em um livro não tem sido tarefa fácil. A professora de Línguas e Códigos, Rozanir Fernandes, concorda com a colega, mas os alunos estão trazendo do campo as sementes do companheirismo, colhidas nas UTDs coordenadas por Ednaldo Calixto.

No Ceará, o Projovem Campo é executado pelo Instituto do Desenvolvimento do Trabalho (IDT) em parceria com a UFC, responsável pela formação continuada dos educadores, e com a Seduc e Prefeituras. O programa beneficia 2,3 mil jovens em 39 municípios. Desse total, 1.678 vagas são destinadas a quem reside nas cidades dos Territórios da Cidadania: Crateús, nos Inhamuns, Sertão Central, Vales do Curu e Aracatiaçu, Sobral e ainda os Sertões de Canindé e Cariri.


Compromisso


"Estes jovens estão aprendendo na prática a viabilidade de viver onde eles moram"
Francisco Júnior Maciel
Coordenador do Polo Projovem Campo - Quixadá

"Ensinar os segredos da terra não é difícil, basta apenas dedicação e compromisso"
Ednaldo Calixto
Professor do Projovem Campo - Ibaretama

"Essa gente consegue resgatar nossa dignidade e a esperança por dias melhores"
Francisca Edilene Nascimento
Aluna do Projovem Campo - Ibaretama


MAIS INFORMAÇÕES

Instituto de Desenvolvimento do Trabalho
Projovem Campo - (85) 3101.5500



Alex Pimentel
Colaborador

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