terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

CULTURA: Passagem de Lampião por Limoeiro do Norte vira tema de quadrilha junina em 2010


Contagem regressiva para os festejos de São João, que este ano contará em dança mais um episódio envolvendo a passagem de Lampião por Limoeiro do Norte.

Aos pouquinhos, de dois em dois ou em turma, os primeiros brincantes vão chegando à casa 115 da Travessa Riachuelo, nas proximidades da avenida Borges de Melo. Primeiro, as crianças; logo em seguida, os adultos, o Arraiá Zé Testinha - que completa 34 anos de existência em 2010 - mal passou o período momino e já está a todo vapor com os preparativos para mais um ano puxado de folia junina.

Numa espécie de sítio, que reúne duas grandes casas da família Rogério, Reginaldo, um dos seis filhos e seu Francisco e dona Maria José, chamada por todos de Vó Mãezinha, é quem comanda a trupe que, a cada ano, se reinventa para contar na pisada forte e na alegria da quadrilha as peripécias de Lampião e seu lendário bando de cangaceiros. “Começou como uma brincadeira, a gente cresceu no meio disso.

Nosso avô, Antônio (já falecido), era rabequeiro e fazia na casa dele essas festas. Mas era de uma maneira diferente do que é hoje, que a gente até costuma chamar de quadrilha improvisada, né?”, explicou Reginaldo, técnico de manutenção que troca o Carnaval para, em junho, encarnar o Zé Testinha.
O Arraiá Zé Testinha é um dos grupos mais antigos em atuação. São 34 anos de atividade ininterrupta. O grupo tem uma característica particular: faz o resgate da cultura do cangaço.

Atualmente um dos grupos de maior popularidade e atuação no Estado do Ceará, o Arraiá Zé Testinha, diferentemente das chamadas “quadrilhas estilizadas”, aposta na tradição para agradar o público. “Quando a gente viu o avanço da modernidade, percebemos que a gente tinha que achar dentro da nossa história uma riqueza cultural para contar. Então encontramos o cangaço. Algumas pessoas até acham que é a mesma coisa pelo fato de sempre existir a roupa de cangaceiro e tal, mas o fato é que a gente evoluiu sem perder as nossas características”.

Para tanto, músicas próprias e do rei Luiz Gonzaga pontuam o repertório do regional, formado por Jonathan Rogério (voz e zabumba), Natanael Welton (triângulo) e Wellington Júnior (sanfona).

Para 2010, o tema da quadrilha, que conta em sua formação com diversos integrantes da própria família, será a passagem de Virgulino Ferreira pelo município cearense de Limoeiro do Norte. “A gente, desde que começou a focar em Lampião, estuda a história do cangaço no sertão, os lugares por onde Lampião passou... Então vimos que ele chegou em Limoeiro, e o que a gente vai mostrar é justamente o lado festeiro disso, não a briga. Vai ser um fuxico só!”, prevê Reginaldo, que já se apresentou com a Testinha em Sergipe, Pernambuco, Rio Grande do Norte e Brasília, arrebatando inúmeros troféus.

Algumas das melhores fotos que se tem do bando de Lampião foram tiradas em Limoeiro, na frente de uma farmácia, de frente para a igreja. Lampião seria o quinto da direita para esquerda, sentado.

Mini cangaço

Criada há cinco anos para homenagear a adulta, a quadrilha infantil do Zé Testinha é composta por crianças a partir dos sete anos. Zélia Rogério, irmã, é quem puxa a marcação. “Para esse primeiro ensaio, vieram 24 pares. Mas esse número pode aumentar ou diminuir, depende. Tem menino que sai por conta própria, mãe que tira o filho...”, explica. Para além da parte cultural, o caráter social também conta, e muito, para Reginaldo. “Aqui funciona quase como uma ONG porque a gente acompanha eles o ano todo, recebe cesta básica, vê como eles estão na escola, etc. Como pré-requisito, a gente nem quer muita coisa, mas que saibam fazer alguma coisa. Mas uma coisa importante e que a gente ainda vai fazer - é criar uma quadrilha infanto-juvenil por que é uma faixa que ainda está ociosa. Muitas das crianças que passam por aqui e saem - não todas, claro - acabam se envolvendo com o crack”, constata Reginaldo.

Tesoureiro da Federação das Quadrilhas Juninas do Estado do Ceará (Fequajuce), atualmente presidida por Kiko Sampaio (quadrilha Beija-Flor do Sertão), ele avalia o funcionamento da entidade. “Nós ainda estamos engatinhando, trabalhamos praticamente como um sindicato. Até 2009, tinham cerca de 300 e poucas quadrilhas federadas, mas muitas se desfizeram por falta de incentivo; o Festival de Quadrilhas do Nordeste (exibido pela Rede Globo), no entanto, nos fortaleceu muito! Mas a meta dessa nova gestão é fazer um censo junino que, dividido por zonas, vai mapear quantas existem realmente no nosso Estado”, concluiu.

Ao final da visita, seu Francisco resume feliz o que seja, segundo o filho Reginaldo, aquele “fuxico” de todos os anos. “A senhora tá vendo? Isso aqui é o ano todo... Sempre que as pessoas vêm eu costumo dizer que aqui é a casa do fuá!”.

Fonte: Ibicidade.com com informações do OPOVO Online, por Teresa Monteiro

0 Comentários: