segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Assaltos a bancos deixam o Interior em clima de ´guerra´

Cidades estão sendo invadidas por quadrilhas armadas, que fazem reféns, atacam bancos e desmoralizam a Polícia
Cenas de banditismo estão se repetindo, cada vez com maior frequência, nas cidades do Interior cearense. Em menos de nove meses, já são 18 ataques a bancos nas cidades fora do eixo da Grande Fortaleza (Capital e região metropolitana). O número de assaltos contra agências bancárias este ano já superou os registros de 2009, quando 16 roubos foram perpetrados.

A mais recente ação dos criminosos aconteceu na manhã de quinta-feira passada (2) na cidade de Catarina, situada na Região dos Inhamuns (a 394Km de Fortaleza). Um grupo formado por cerca de dez homens, todos portando armas de grosso calibre, como metralhadoras e escopetas, invadiu aquela cidade depois de uma ação planejada que começou ainda nos arredores do Município, quando os ladrões fizeram uma barreira na estrada (CE-277) e, de uma só vez, roubaram dois automóveis e um caminhão, fazendo reféns cinco pessoas. O passo seguinte foi levar as vítimas até a agência do Banco do Brasil.

Escudo

Os reféns foram usados como escudo humano. Na cidade havia apenas três policiais militares, efetivo insuficiente para oferecer qualquer tipo de reação contra a quadrilha. Depois de se apoderar de todo o dinheiro que havia ali, os ladrões foram embora levando o gerente da agência como mais um refém.

O que aconteceu na cidade de Catarina foi tão-somente uma espécie de reprise do que já havia ocorrido em outras cidades de igual ou maior porte do Interior cearense.

Cada vez mais ousados, os assaltantes não têm o que temer, já que os efetivos das polícias Civil e Militar no Interior, principalmente nas pequenas cidades, quase inexistem.

"Estamos vendo as cidades serem literalmente dominadas pelos assaltantes que antes agiam na Capital", contou um delegado de Polícia Civil, que pediu para não ter seu nome revelado. Segundo ele, particularmente em relação à Polícia Judiciária, o efetivo está tão reduzido que delegados destacados no Interior estão sendo chamados para tirar plantão nas delegacias de Fortaleza e região metropolitana nos fins de semana e feriados.

Há duas semanas, o delegado de uma cidade da Região do Vale do Jaguaribe foi convocado em pleno domingo para dar plantão no 8º DP (José Walter). "Esta é a nossa realidade", lamentou a fonte.

Segundo levantamentos da própria Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS), os índices de assaltos contra bancos têm crescido. Por conta disso, o titular da Pasta, delegado federal Roberto Monteiro, decidiu criar um ´Grupo Especial´ para investigar, especificamente, os roubos nas agências do Banco do Brasil, conforme o Diário do Nordeste revelou na reportagem especial "Milícias do Rio são suspeitas de assaltar bancos no Ceará´, publicada na edição do último dia 23.

Na semana passada, o comandante-geral da PM, coronel William Alves Rocha, determinou o deslocamento de reforço para as regiões onde ocorreram os mais recentes assaltos a bancos. O comandante do Batalhão de Polícia de Choque (BpChoque), tenente-coronel PM João Batista Bezerra dos Santos, confirmou a ida de patrulhas do Grupo de Ações Táticas Especiais (Gate) para o Interior cearense com o objetivo de reforçar as operações de repressão aos quadrilheiros.

Inteligência

Aliado ao trabalho ostensivo, a SSPDS também poderá utilizar seu núcleo de Inteligência com o objetivo de identificar os integrantes das quadrilhas.

DINHEIROQuadrilhas já arrecadaram milhões nos seus ataques

A sequência de assaltos a bancos no Ceará, em 2010, teve início logo no começo do ano. Foi na tarde do dia 5 de janeiro, quando, por volta de 14 horas, uma quadrilha atacou a cidade de Pedra Branca (a 291Km de Fortaleza). Aquela seria uma das mais ousadas e violentas ações dos criminosos, pois eles conseguiram pilhar duas agências ao mesmo tempo, Bradesco e Banco do Brasil (BB).

Informações não confirmadas pelas duas instituições indicam que a quadrilha pode ter roubado mais de R$ 1,6 milhão durante as invasões simultâneas. Já do Banco do Brasil de Banabuiú, assaltado no dia 31 de julho, foram levados cerca de R$ 300 mil. Os altos valores roubados indicam a fragilidade do sistema de vigilância das agências e a quase nenhuma capacidade de resistência da Polícia para enfrentar, desarticular e mandar para a cadeia os salteadores.

Cidades

Conforme os registros, os ataques aos bancos ocorreram na seguinte sequência: Pedra Branca (05/01), Banabuiú    (14/01), Novo Oriente (26/02), Palhano (23/03), Aiuaba (26/03), Saboeiro (29/04), Nova Russas (29/04), Orós        (03/05), Piquet Carneiro (01/06), Monsenhor Tabosa (29/06), Reriutaba (06/7), Ibicuitinga, pela primeira vez          (07/07); Lavras da Mangabeira (16/07), Banabuiú, pela segunda vez (31/07); Cruz (23/07), Ibicuitinga, pela segunda vez (28/08), e, por último, Catarina (02/09).

A Polícia investiga, sigilosamente, uma segunda tentativa de assalto ao BB da cidade de Quixadá, ocorrida há cerca de duas semanas. O caso, porém, não foi divulgado pelas autoridades da Segurança Pública.

PODER DE FOGO
Criminosos já chegam atirando

Como no velho tempo do cangaço, os assaltantes chegam nas cidades do Interior já atirando, deixando bem claro que, em caso de reação, estão dispostos a descarregar suas armas de grosso calibre, como fuzis, escopetas e metralhadoras.

"Tragam o fuzil e a escopeta", bradou um dos bandidos que, na manhã de quinta-feira passada (2), assaltaram o Banco do Brasil da cidade de Catarina.

O relato foi feito à Reportagem por um dos policiais mobilizados nas investigações sobre o fato. Segundo ele, os ladrões agiram de forma estratégica. Antes de chegar à cidade, roubaram um caminhão na CE-277 e o atravessaram na rodovia, bloqueando a passagem de outros veículos num raio de, aproximadamente, nove quilômetros de distância da agência. Em seguida, partiram para o ataque.

"Os senhores são alguma autoridade?", indagou o suposto chefe da quadrilha no momento em que seu grupo rendia dois homens na estrada. As vítimas eram um médico que daria plantão no hospital público de Catarina e o diretor administrativo da unidade de saúde. "Sou apenas médico e tenho quatro filhos para criar", respondeu um dos reféns. "Tá com medo doutor?", retrucou o assaltante, segundo a Polícia. O ar de deboche do criminoso com aflição das vítimas bem demonstra a forma audaciosa como os ladrões estão agindo no Ceará.

Financiar?

No rastro das investigações, a Polícia acredita que, parte do dinheiro que está sendo levado dos bancos, tem como finalidade financiar fugas de bandidos de alta periculosidade e que ainda estão nas cadeias cearenses ou de outros Estados. A Polícia não descarta, por conta disso, a hipótese de ligação entre os mais recentes assaltos a bancos no Interior com a fuga de dois chefes de quadrilhas no IPPS, há duas semanas.

BANDIDOS DE FORA
´Milicianos´ teriam ligação com roubos

A informação estava em sigilo pela Polícia, mas ´vazou´ para a Reportagem há cerca de duas semanas. Em um dos assaltos contra agência do Banco do Brasil no Interior, sugiram fortes suspeitas de que o grupo responsável pelo crime era formado por bandidos locais e cearenses que atuam como ´milicianos´ em favelas e comunidades periféricas da Baixada Fluminense, no Rio de Janeiro. A quadrilha usa armas de grosso calibre, incluindo fuzis, que são vistas em poder de traficantes e seus ´soldados´ nos morros cariocas.

A investigação já apontou, inclusive, a utilização de carros com placa do Rio de Janeiro em algumas fugas após os ataques no Interior do Ceará. Oficialmente, porém, as autoridades não confirmam as suspeitas.


Revista Central com informações do Diário do Nordeste

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