terça-feira, 27 de outubro de 2009

Monólitos inspiram imaginação

Turismo

Monolitos_-_Pedra_das_Tartarugas
Exótica paisagem de parque ambiental em Quixadá estimula o imaginário dando nome às formações rochosas

Quixadá Quem chega ao Vale Monumental, uma extensa área de aproximadamente 500km² abrangendo os municípios de Quixadá e Quixeramobim, se encanta com a singular paisagem a quebrar a aparente monotonia da geografia sertaneja. São dezenas de formações rochosas, de origem plutônica, a chamarem a Monolitos_-_Pedra_das_Tartarugas_1atenção, algumas por suas formas bem peculiares e outras, pela estranheza mesmo. A maioria está encravada em Quixadá, na macrorregião Central do Ceará.  Um imenso portal de pedras, a 158km da Capital, anuncia aos visitantes: Terra dos Monólitos.

Pelo caminho, os imensos monumentos não passam despercebidos. Mas apenas cruzar as CEs 060, 265, 359 e 456, com destino ao sul do Estado, ou seguir no sentido contrário, para o litoral, não basta. É preciso ficar atento e puxar pela imaginação para apreciar algumas das mais curiosas esculturas da natureza. Assim como dar forma às nuvens é um divertido passatempo aprendido na infância, faz-se necessário ter boa percepção fantasiosa. Logo surgem bichos, monstros e outras espécies esquisitas, de um lado como do outro Monolitos_-_Pedra_das_Tartarugas_2das rodovias. Algumas, um pouco mais distantes.  

A Pedra da Galinha Choca, indiscutivelmente, é a mais famosa e colossal delas. O caprichoso repouso diante do Açude do Cedro forma uma das mais belas paisagens do mundo. No seu entorno, a Pedra da Foca e a Pedra do ET também são visitadas com frequência. Disso todo mundo sabe. Mas muita gente nem imagina a diversidade das esculturas fabricadas pela natureza, camufladas na mata nativa. As pedras da Baleia e do Sapo são exemplos. Com boa imaginação e também espírito aventureiro, de repente surgem à sua frente.

De repente, o Pão de Açúcar, no meio do sertão, é claro, surge diante dos nossos olhos. A gigantesca formação geomorfológica está localizada na Fazenda Monolitos_-_Pedra_das_Tartarugas_4Reduto. São 25 quilômetros de asfalto e mais seis de terra batida, no sentido de Quixadá a Quixeramobim. No trajeto, dá para apreciar a Pedra do Monstro, a da Bruxa, no entorno do Lago dos Monólitos ou Açude do Euripedes, como o parque ambiental é mais conhecido. Também é possível observar de longe o marco da cidade, a Pedra do Cruzeiro, repleta de antenas.

Tartarugas ninjas
Se existe pedra cheia de transmissores metálicos também existe abarrotada de bichos. Pela sinuosa estrada de acesso à Daniel de Queiroz, reduto familiar da imortal escritora Rachel de Queiroz, um bloco com aproximadamente 100 metros de diâmetro esconde quatro tartarugas. São os heróis ninjas Leonardo, Michelangelo, Rafael e Donatello. Como usam Monolitos_-_Pedra_das_Tartarugas_5disfarces para combater o mal, se escondem entre as saliências rochosas. Apenas Donatello expõe sua carcaça. É o mais exibido. Eles podem ser observados no Sítio Lemos, a pouco mais de 5km do Centro da cidade.   

Impressionante. Esse é o termo mais utilizado pelos visitantes quando começam a invadir esse exótico templo da natureza, um caprichoso reduto criado pelas forças do tempo, do vento e das chuvas.

Até mesmo quem nasce e passa a vida a perambular por este imenso curral de pedras, como o lugar é popularmente conhecido pelos nativos, não esconde a surpresa e admiração a cada expedição. Sempre surge algo novo pelo caminho. Com um pouco de sorte, dá até para ser o conquistador de mais um desses curiosos monumentos.

A diversidade de formações monolíticas deixa sempre por surgir mais alguma novidade. Até então ninguém se interessou em catalogar as descobertas. Excetuando-se as mais famosas, algumas chegam a confundir os visitantes. As Cabeças dos Gigantes servem como referência. Geralmente os guias turísticos indicam a Fazenda Santa Fé, no caminho de Ibicuitinga. Mas quem segue para a Fazenda Magé, em sentido oposto, se depara com formação similar. Qual delas é a verdadeira, cabe ao observador decidir, ou simplesmente contemplar. 

Cada indivíduo projeta aquilo que está presente na sua emoção, e nesse processo dá uma forma abstrata para o cotidiano. Com essa definição a psicóloga Aline Domício, coordenadora do curso de Psicologia da Faculdade Católica Rainha do Sertão, esclarece como os monólitos de Quixadá ganham jeito de bichos e outras formas. Estão associadas a representações simbólicas. Partem de um grupo de pessoas de uma determinada região. Ela cita a Pedra da Galinha Choca. Sua criação tem alicerce no imaginário social.

A especialista cita o psiquiatra suíço Carl Gustav Jung, fundador da Psicologia Analítica, como estudioso desses símbolos. Ele detectou a existência de elementos de várias formas ao longo das civilizações. Em sua teoria, essas figurações se concentram no imaginário. Enquanto o inconsciente pessoal consiste fundamentalmente de material reprimido e de complexos, o inconsciente coletivo é composto de uma tendência para sensibilizar-se com certas imagens, ou melhor, símbolos que constelam sentimentos profundos de apelo universal.

Em Quixadá, a maioria das rochas está associada a animais ou elementos exóticos. Na Psicologia, esse processo é definido como percepção representativa. Isso ocorre porque existem temas mais recorrentes do que os outros. Trata-se de uma necessidade, em busca do novo e do diferente. Essa relação estimula e influencia a imaginação. A psicóloga ressalta a necessidade de haver representação simbólica para o estabelecimento dessa concepção imaginária. Ela nasce no conceito da cultura, absorvido pelo indivíduo em forma de emoção, afetividade e, também, sentimento.

Mentalmente, o abstrato é transformado em concreto. Isso é imaginação. Essa concepção parte da formação social da mente. Segundo a psicóloga, na teoria de estudiosos, ela ocorre por meio de um processo biológico, dando representação ao pensamento, ou transformando numa linguagem, de forma racional. Essa linguagem pode ser verbal, visual, gestual, sensorial ou perceptiva. Mas é preciso estar disposto a se fundir com o meio. Estar aberto à vida para poder desfrutar essa sensação.

Geomorfologia
O geólogo Aramis de Oliveira Neto define a cadeia de serrotes a perder de vista no Sertão do Ceará como um único bloco rochoso. A floração na realidade surgiu a partir da erosão e não de explosões vulcânicas. Segundo o especialista, estudos apontam para a estagnação da ebulição de um vulcão como causa para a formação do conglomerado de rochas ígneas. Esse fenômeno surgiu com um fluxo magmático ascendente em relação à superfície. Como a erupção foi impedida, a larva se espalhou pelo subsolo. O fenômeno tem mais de 585 milhões de anos.

Com o passar do tempo, a manta mineral, formada basicamente por quartzo, mica e feldspato, sofreu cristalização. A erosão do solo ao longo de milhares de anos se encarregou de expor as saliências da imensa formação monolítica, denominadas cientificamente de inselbergs.

A relação com os icebergs decorre pelo fato das estruturas sólidas vistas em forma de montanhas na superfície serem na realidade um único bloco com dezenas, centenas ou até milhares de quilômetros de diâmetro. Explica o geóloga, ainda, não haver estudos precisos sobre a dimensão do existente no município de Quixadá. Continua na página 3

Mais informações

Prefeitura de Quixadá: (88) 3412.3864
Monólitos Adventure : (88) 8805.6399
Sebrae Quixadá: (88) 3412.0991
Rosier Alexandre : (85) 8814.0751

ALEX PIMENTEL
Diário do nordeste
Fonte: Revista Central de Quixadá

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