Por Mary Zaidan
O mensalinho do interior cearense nem chamaria atenção no país.
Encravada no Sertão Central cearense, a pequena Ibaretama assistiu à prisão por corrupção de 20 servidores públicos, alguns deles vereadores que recebiam propinas mensais há dois anos.
O mensalinho do interior cearense nem chamaria atenção no país do mensalão não fosse o fato de o pagamento estar registrado em cartório, com assinatura e firma reconhecida.
Isso mesmo. A certeza da lei pró-Sarney, consagrada pelo ex-presidente Lula, de que há incomuns e menos iguais, e da consequente impunidade é tamanha que a gratificação informal foi lavrada em tabelião, com carimbo e ofício.
O caso só veio a público depois de um dos vereadores ser cassado e ver rompido o acordo para a eleição da presidência da Câmara local. Como tudo estava documentado, tudo era legal, alega o edil.
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Quisera a mesma distância entre os registros legais e a lei que fez o Ministério Público do Ceará agir em Ibaretama prevalecesse em Brasília. Mas no Planalto os incomuns são ainda mais incomuns do que nos sertões.
Nem propina filmada, como a de Waldemar dos Santos nos Correios, nem a declarada, como a confissão do ex-deputado Roberto Jefferson escancarando o esquema do mensalão, têm qualquer conseqüência. Sem contar as que o governo finge investigar, como as artimanhas da ex-ministra Erenice Guerra e, ao que tudo indica, as façanhas de Palocci.
Corrupção não é novidade. Vem de longa data. Mas ano a ano as práticas de malversação vão ganhando em requinte, velocidade e volume.
Ilícitos, bandidagem e exemplos de sucesso inexplicável continuam a vir de cima, avalizados por aqueles que deveriam combatê-los. E se proliferam Ibaretamas afora.
Mary Zaidan é jornalista, trabalhou nos jornais O Globo e O Estado de S. Paulo, em Brasília. Foi assessora de imprensa do governador Mario Covas em duas campanhas e ao longo de todo o seu período no Palácio dos Bandeirantes. Há cinco anos coordena o atendimento da área pública da agência 'Lu Fernandes Comunicação e Imprensa, @maryzaidan
Fonte: Jornal O Globo / Blog do Ricardo Noblat
Fonte: Jornal O Globo / Blog do Ricardo Noblat
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