*Por João Vieira Picanço
Hoje acordo com vontade de protestar, vontade de expressar meu
desconforto, meu desalento com meu país e meu povo. Estou cansado. Estou
entristecido. Não reconheço mais meu povo e, ás vezes, não me sinto mais como
parte dele. Sou de um tempo de protestos, passeatas, gritos de ordem,
bandeiras, panfletos e músicas contra nossos opressores na ditadura. Tínhamos
nossos heróis e arautos como Caetano, Gonzaguinha, Vandré, Chico, Zé Geraldo
etc.
Apesar da repressão íamos as ruas dizer: NÃO CONCORDAMOS. Hoje meu povo
está mudo, omisso, apático. Eduardo Alves da Costa no poema "NO CAMINHO,
COM MAIAKOVSKI" diz:" ...Na primeira noite eles se aproximam
e roubam uma flor do nosso
jardim.
E não dizemos nada.
Na segunda noite já não se escondem;
Pisam as flores,
Matam nosso cão
e não dizemos nada.
Até que um dia,
o mais frágil deles,
entra sozinho em nossa casa
Rouba-nos a luz e,
Conhecendo nosso medo,
Arranca-nos a voz da garganta.
E já não podemos dize nada...
Hoje meu povo já não grita, repulsa, estrebucha. Aceita tudo que lhe
impõe inerte. Estamos em outras ditaduras: a do medo, da omissão, do silêncio,
do rabo entre as pernas, da inércia, da migalha e das bolsas e auxílios. É
patética nossa situação e posição. Se antes tínhamos referências como Brizola, Niemeyer, Ferreira Gullar, Fernando Gabeira, Glauber Rocha, hoje Temos Tiririca e Bolsonaro.
Hoje aceitamos o inaceitável: um prefeito eleito pelo voto popular
chamar professores de MARAJÁS, um ministro da saúde chamar médicos de
preguiçosos e vagabundos, um presidente cortar receitas de saúde e educação e
liberar praticamente a arrecadação da união pra se manter num cargo, tiroteios
cotidianos NORMAIS em nossas cidades quando em qualquer lugar do mundo seria
terrorismo, presidiários recebendo auxílio reclusão maior que o salário mínimo
do trabalhador. E o povo aceitando tudo covardemente. Durmo com a música do
Chico na cabeça: "Apesar de você amanhã há de ser outro dia..." E
quando acordo é a mesma coisa. Sonho com o dia que meu povo com afinco,
determinação, sangue nos olhos, dará o seu estrondoso grito de liberdade:
"- A partir de hoje MORREU MARIA PREÁ."
*João Vieira Picanço é advogado, Presidente do Partido Democrático Trabalhista - PDT, ex-parlamentar e milita na política ibaretamense há 19 anos.
Fazemos parte da rede do Portal Revista Central - informação em tempo real com credibilidade.
acesse: www.revistacentral.com.br
2 Comentários:
Disse tudo!
Dr Picanço,
Entendo sua desilusão. Realmente a passividade está reinando. Mas tenho fé que
tudo vai melhorar!
Victor Scott
Postar um comentário