segunda-feira, 7 de agosto de 2017

Papo Reto: Falta-me o inocente

Por João Vieira Picanço

O grande filósofo Diógenes há mais de 4 mil anos andava nas ruas de Atenas, com uma lâmpada na mão, em busca de um homem honesto. Estou com vontade de fazer o mesmo. Estou cansado de todos os dias ler nos jornais tanta roubalheira descarada. Pra onde foram os princípios e a ética? Acho que para o ralo. Os tempos são outros.


As referências e modelos mudaram. Antigamente era sinal de prestígio familiar ter um padre na família, depois um médico, um professor, um advogado, um funcionário do Banco do Brasil. Agora é orgulho, prestígio ter um político ladrão na família. É bom. Vive-se na mídia e holofotes e no final não dá em nada. O povo referenda os atos com outra reeleição. Vinícius de Moraes dizia não entender a atração que as mulheres tinham pelos cafajestes. Já eu não entendo a atração que os eleitores têm pelos políticos corruptos. O mesmo Vinícius no poema "DESESPERO DA PIEDADE" diz:

“...Tende piedade dos homens públicos e em especial dos políticos
Pela sua fala fácil, olhar brilhante e segurança dos gestos de mão
Mas tende mais piedade ainda dos seus criados, próximos e parentes
Fazei, senhor, com que deles não saiam políticos também...”

Um amigo que se enternecia de ira pelos políticos me conta que cansou e mudou de estratégia: - Agora só quero que os políticos saibam que também tenho mala e cueca pra esconder dinheiro também. E cobro barato. Padre Antônio Vieira no sermão do bom ladrão escreve:

“levarem os reis consigo ao paraíso os ladrões, não só não é companhia indecente, mas ação tão gloriosa e verdadeiramente real, que com ela coroou e provou o mesmo cristo a verdade do seu reinado, tanto que admitiu na cruz o título de rei”.

Mas o que vemos praticar em todos os reinos do mundo é, em vez de os reis levarem consigo os ladrões ao paraíso, são os ladrões que levam consigo os reis ao inferno.

Exatamente como nos dias atuais: o povo não leva os maus políticos as tribunas. Elege e permite que os maus os levem a miséria, a desgraça e opressão. Que o povo diga minha culpa, minha máxima culpa. Lembro-me de uma passagem bíblica: Pilatos pergunta a multidão: - Jesus ou Barrabás? E o povo responde: - Barrabás. Pilatos então diz: lavo minhas mãos do sangue desse inocente. Engraçado como até hoje escolhemos os ladrões. Tive um sonho engraçado outro dia. Sonhei que me colocava no lugar de Pilatos. E perguntava: - o povo ou os políticos? Pra minha surpresa vi que tinha a bacia, a água pra lavar as mãos, a toalha pra enxugá-las, mas ME FALTAVA O INOCENTE.

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