terça-feira, 22 de maio de 2018

Ceará poderá ter primeira candidatura independente


Por Lucas Memória

No Brasil, este tipo de procedimento ainda não é comum. No Estado, acordo com partido poderá possibilitar a participação.

Em descrédito, a política brasileira atravessa uma profunda crise. Em contramão a isto, surge o desejo de candidaturas independentes, realidade em quatro em cada dez nações, segundo o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). Na França, o presidente Emannuel Macron, elegeu-se sem partido político. Como no Brasil este tipo de candidatura ainda não é permitida, a saída encontrada para o cearense Ítalo Alves, pré-candidato a deputado federal, foi procurar uma legenda que abrace as causas que defende e respeite a sua autonomia interna, ainda que discorde de posicionamentos do partido.
 

Eu conversei com cerca de cinco partidos à nível nacional e aqui no Ceará [PPS, PV, Rede, PSB e Podemos] e apresentei um projeto inovador de campanha, pedindo também a minha independência. Muitos demonstraram interesse, mas também sinalizaram que não financiariam minha campanha ou me dariam tempo de TV, ainda que eu tivesse direito, pois outros candidatos tradicionais já eram priorizados. O único partido que me deu a abertura que eu buscava foi o PPS. Com ele, tenho agenda própria, posso discordar da agenda do partido, não preciso votar com a bancada do mesmo, não preciso contratar ninguém do partido para o meu futuro gabinete, e não preciso pedir votos para candidatos à majoritária do mesmo. A autonomia do meu movimento social, o Acredito, é respeitada”, disse. 

O pré-candidato, no entanto, reconhece a importância do momento para reconstruir os partidos políticos, inclusive o que se filiou. “Apesar de ter independência, eu quero ajudar a construir o partido internamente. De forma alguma deixaria que isso me isolasse. Muito pelo contrário. Estou, neste momento, construindo os novos posicionamentos de segurança pública do PPS. Acredito que a renovação deve acontecer de fora pra dentro, mas também de dentro pra fora. O PPS se abriu nacionalmente para diversos novos movimentos sociais. É um reconhecimento de que ele precisa participar das novas formas de preservar a nossa democracia. Estamos falando de um dos partidos mais antigos deste país. É incrível que ele deixe que nós, pessoas que queremos uma nova forma de fazer política, possamos sentar à mesa das decisões para que sejamos ouvidos. É um processo novo, que demandará muito diálogo, mas estamos prontos pra aprender com ele”. 

No Senado, discute-se uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC 350) sobre o assunto. Para os defensores, a medida fortalece movimentos sociais que, atualmente, só podem se candidatar, caso ingressem em uma legenda. É o caso do pré-candidato Guilherme Boulos, líder do Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST), que se filiou a um partido para disputar a Presidência. 

“A nossa Constituição garante a pluralidade de opinião política. Porém, isso está restrito aos partidos, o que limita a democracia. Se você é um indivíduo com certos posicionamentos e tem uma grande comunidade que lhe apoia, por que você precisa de um partido pra se candidatar? Além disso, muitos partidos possuem um monopólio de nomeações de candidatos, preferindo sempre aquelas candidaturas tradicionais e da velha política. Eu acredito que o Brasil só se fortalecerá como democracia ao possibilitar as candidaturas independentes de forma que se somem às candidaturas partidárias. Irei lutar por isso no Congresso também.”, explica Ítalo. 

CARTA-COMPROMISSO

Em reunião com o presidente do Partido Popular Socialista (PPS) e José Frederico Lyra Netto, coordenador nacional do Movimento Acredito, em que Ítalo é integrante, ficou acertado que os representes do grupo suprapartidário colaborarão com a reinvenção de um novo modelo de pensar e fazer a democracia. O partido, por sua vez, comprometeu-se a respeitar a autonomia dos membros da entidade. “No dia da assinatura da carta, o Presidente do PPS, Roberto Freire, falou que estava muito emocionado de poder participar de uma nova etapa da ciência política brasileira. Uma etapa que vem pra reformar partidos que já não servem mais a nossa sociedade como serviu àquela pós-revolução industrial. Este é um momento importante para aquelas pessoas que poderiam ter desistido da política de se envolver e contribuir com a reinvenção dos partidos,” finaliza Ítalo.

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