domingo, 26 de abril de 2020

O poder do QI, quem indica.

Por Getúlio Freitas

Chamamos de “network” a rede de contatos que vamos montando ao longo da vida, nas relações que vamos estabelecendo na faculdade, no trabalho, nos meios sociais, além de ajudar o profissional a manter-se atualizado sobre o que acontece de mais novo em sua área e aprender. Através destes contatos é possível conseguir uma entrevista de emprego, e demais novidades que possam agregar social e profissionalmente, como já mencionado.


Em termos gerais, é o velho “QI”, quem indica, que pode dar um empurrãozinho às suas habilidades, mas não é determinante como se imagina. Mas quando isso se dá no meio político, na gestão pública, o quanto esta rede é proba, moral, legal?

            Acompanhando os desdobramentos da crise política atual, esquecendo a da saúde pública por um breve momento, percebemos a forma como estas indicações se dão no governo atual e acompanhando os desdobramentos, posicionamentos oficiais do governo e seus comensais, percebemos a falta de um plano bem definido de governo que vá além dos ideais da família Bolsonaro. E estas indicações tem seguido este ideal, em decorrência de se ter ou não o mesmo pensamento da citada família, que domina e articula como se dá a política interna do governo.

Os dramas da política municipal, realidade de muitos municípios do Brasil, disputada por famílias, clãs que vão se perpetuando no poder indefinidamente parecendo até que ser político é um cargo hereditário como os sucessores da velha monarquia, parece até que estes dramas chegaram em nível federal, para não ser mais categórico.

            A exemplo quando uma deputada entra em contato com um ministro de estado e oferece sua força política para uma indicação a um cargo em outra instituição, em troca dele ceder a pressão interna do chefe é um dos exemplos mais claro da prática da velha política. Ela está se colocando como elo de uma rede viciada, danosa e imoral, onde na verdade tal ato deve ser analisado com bastante cuidado, pois pode ser indicador de uma situação maior e mais séria. Perguntas por qualquer cidadão comprometido com a verdade devem ser feitas.

Por que exonerar o Diretor Geral da Polícia Federal e substituí-lo por outro? Alinhamento de interesses e quais interesses? O que incomodou tanto o presidente ao ponto de pedir a exoneração de alguém que tem o poder de conduzir investigações de grandes figuras tanto do executivo, seus pares e subordinados, quanto de outros escalões de estado?

É certo que na gestão privada quando um funcionário não está agindo conforme a política da empresa, o que não é o caso aqui, ele é dispensando, pois não agrega mais valor à missão e visão da empresa nos serviços e produtos que é envolvido. No caso aqui a política e missão da União estão explicitas na Constituição Federal.

E vale citar que o chefe do executivo não é a constituição, ele está a serviço dela, jamais acima, ou ainda que seja personificação dela. E como tal deve agir de forma impessoal (não pode se ofender por críticas ao seu governo, deve diferenciar governo de estado), não deve guiar-se por sua vontade, interesses pessoais e familiares, mas pelos princípios contidos na Constituição Federal que visam o estado de bem estar social.

Em suma devemos ter cuidado quando elegemos heróis para nos defender, pois quando o fazemos estamos pondo em xeque a estrutura social e anulando nossa responsabilidade pelo equilíbrio social e político. Devemos lembrar também que a corrupção é algo que esta entranhado em nossas mínimas ações e devemos combatê-la todo o tempo, na fila do banco, na escola, universidade e etc, pois quando ela sobe à Brasília incutida em nossos representantes temos em nível macro aquilo que vivemos a nível micro, nas pequenas relações.

Jamais devemos esquecer que heróis choram, podem errar e que não são invulneráveis e pra quem precisa trocar a blusa do “Moro Herói”, para “Moro Comunista”, sinto muito, lidar com as incertezas, a incontingência é algo doloroso para quem só concebe a vida de verdades absolutas.

Assim o limite entre indicação e crime na esfera pública é algo extremamente sensível e deve ser visto com extremo cuidado e atenção, para que as relações entre executivo e legislativo, próprias do presidencialismo de coalizão não se tornem barganha com o dinheiro público e que a máquina pública não se torne aparato para bancar favores e sonhos da rede em volta do presidente e ministros.


Getulio Freitas
Bacharel em Administração de Empresas
Pós-Graduando em Direito Constitucional e Tributário

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