domingo, 19 de abril de 2020

A COOPERAÇÃO HUMANA E O AGIR DE DEUS


Por Getulio Freitas
A importância da ação humana em tempos de crise

Atualmente vivemos uma grande proximidade do Presidente da República bastante conveniente com um setor dito “conservador” da sociedade, os protestantes e outros que pertencem a outra religião, a “antipetista”, mas meu foco aqui é pontuar à luz do desenrolar bíblico o que foi ação humana e ação divina e como estes dois componentes sem relacionam.


Começando por Abraão, o grande patriarca, Deus se dirige a ele e diz “Sai da tua terra, da tua parentela, da casa de teu pai, para a terra que eu te mostrarei (Gn 12, 1)”. A fala de Deus é clara, Abraão precisa fazer algo para que as promessas de Deus se realizem, ele não pode ficar na mesma situação em que está, na família, em sua terra, acomodado seguindo o desenrolar da mesma história de sua família até o fim de sua existência como os demais de seu entorno, Deus o incomoda, o impele a fazer algo, mas não faz por ele.

Abraão precisa iniciar uma longa jornada, sair de si, representado pela saída de sua terra, de seu povo e ir em busca da terra que o Senhor prometera e das bençãos. Se Abraão não tivesse atendido ao chamado de Deus, a história da salvação estaria comprometida, Deus poderia não ter precisado de Abraão, claro que sim! Mas ele por um desígnio que não entendemos totalmente, Deus quer precisar do gênero humano para realizar suas obras.

Interessante notar nesta história, e vamos perceber em outras passagens que após as instruções serem passadas “Deus retirou-se de junto de Abraão (Gn 17, 22)”, a ausência de Deus é um tema forte a ser tratado, no barco durante a tempestade, Jesus Cristo dorme. É a fé que se dá na ausência! A ausência de Deus precisa suscitar em nós algo mais forte que a lamentação de termos sidos “abandonados por Deus”.

Um pouco antes do surgimento da história de Abraão, temos uma mais forte sobre a ação de Deus em cooperação com a humanidade, a história de Noé e salvação do gênero humano, que se dará plenamente no advento do Cristo na cruz. Deus se dirige a Noé, anuncia que destruirá a humanidade, pois esta se corrompeu e diz “faze uma arca (Gn 14)” e sem seguida dá as instruções de como fazê-la.

Deus poderia em um instante ter tirado a vida de todos os injustos e mantido apenas as dos justos? Certamente! Mas quis a cooperação do gênero humano. Acredito que se Abraão tivesse ficado apenas: “tá repreendido Senhor”, “queima Senhor”, “em nome de Jesus isso não vai acontecer”, “eu vou orar para que isso não aconteça” e não tivesse feito nada, todos teriam se afogado e fim do gênero humano. Tiago irá traduzir bem esse sentimento ao dizer que “também a fé, se não tiver obras, está completamente morta (Tg 2,17)”.

Inúmeros outros exemplos bíblicos poderiam ilustrar mais essa cooperação divina e humana que constrói, os milagres de Jesus por exemplo. Ele jamais curava por curar, mas sempre dialogava, os milagres de Jesus eram dialéticos, por assim dizer, ele fazia o milagre nascer dentro da pessoa e como uma parteira, o tirava para fora. Analise as milagres de Jesus e veja essa dinâmica. Talvez a influência Celta, na magia tenha influenciado nossa visão de Deus, um mágico que fala algumas palavras, agita as mãos e o impossível acontece. Sendo que o impossível acontece naturalmente todo dia em nosso corpo, ao nosso redor por puro mecanismo divino entranhado na existência humana e na teia da vida.

Em suma, diante desta crise, espera-se dos que se dizem cristãos, sejam de qual denominação, que não traiam a tradição bíblica e não ponham a vossa proteção apenas em Deus, mas façamos nossa parte, cooperemos com a graça de Deus, que vem ao nosso encontro. Devemos orar em casa, sim! Mas a voz de Deus fala também nas voz das autoridades que se preocupam com a vida e o bem comum, pois aqueles que se preocupam com o dinheiro em primeiro lugar ao custo de sacrificar vidas, é como o mercenário de que fala Jesus, não está preocupado com as ovelhas de seu redil, mas apenas com o quanto elas valem. A ação humana não anula a graça, o agir de Deus, mas o efetiva, complementa.

Getulio Freitas
Bacharel em Administração de Empresas
Pós-Graduando em Direito Constitucional e Tributário

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