Por Getulio Freitas
Na
novela Fina Estampa da Rede Globo de Televisão, Christiane Torloni interpreta
Teresa Cristina, uma mulher da “alta sociedade”, que ostenta o nome e a
riqueza, “o berço de ouro” de onde nasceu, quesitos que segundo ela, a deixam
acima das outras pessoas, em outro nível.
Numa
das cenas, Teresa sabendo que Grizelda, personagem de Lilia Cabral, pobre,
trabalhadora e honesta, nova rica, irá comprar uma mansão no mesmo condomínio
que o seu, promove uma reunião de condomínio para impedir que pessoas como
Grizelda, sem berço, sem nome e sem requinte se junte ao ambiente privilegiado
em que moram.
Parece
que a vida imita a arte, ou a arte imita a vida, pois nesta semana algo
semelhante ocorreu em Fortaleza, onde uma mãe de um importante colégio
particular de Fortaleza demonstra toda sua essência e preocupação ao manifestar
o incômodo de ter seu filho tendo aulas online com crianças de outra sede da
instituição localizada num bairro que sob seu crivo, não faz jus a sua riqueza
e refinamento, conquistados com muito sofrimento.
A
preocupação da mãe era que a filha convivesse apenas com pessoas do “seu nível”
e “com esforço e trabalho", segundo Jornal o Povo que transcreveu a
mensagem, a mulher fala que enriqueceu e que "queria meus filhos
convivendo com gente no mínimo do nosso nível.”
É
assustador existirem pessoas deste tipo ainda nos tempos atuais! Pessoas que
agregam coisas a si para fundamentarem e construírem suas personalidades. É o
iPhone, o local onde se mora, o que se come, o local onde se come, onde se
compra a roupa, o sobrenome que carrega e dentre outros. Todos estes itens
precisam manter a pessoa dentro de um estrito ambiente que a deixe em um nível
acessível a poucos.
Não
preciso mencionar os comentários quando os pobres começaram trocar rodoviária
por aeroporto. Deixaram de cursar até o Ensino Médio e tiveram acesso às
Universidades Federais, particulares, onde antes somente uma pequena casta
tinha acesso. Estes ambientes passaram a feder no nariz de muitas pessoas de
níveis elevadíssimos. E esta realidade que pensávamos superada, está voltando e
com muita força e apoio.
Certa
vez em um restaurante de Fortaleza muito frequentado por pessoas de “níveis
elevados”, uma aluna do mesmo colégio, reclamou com a mãe, que obviamente muito
ofendida reportou-se à gerência sobre o constrangimento que sua filha tinha
passado: a taxa de serviço da sua amiga foi diferente da dela, o que a deixou
muito constrangida diante das demais amigas, apesar da garçonete ter explicado
que a taxa de serviço de 10% é fixa, calculada sobre o consumo individual, o que torna o valor
final a pagar variável, e não ser que tivessem consumido o mesmo valor.
Pessoas
deste tipo expõem o quanto a humanidade ainda precisa evoluir em matéria de
valores, como respeito, solidariedade, senso comum e dentro outros. Pessoas que
para elas, empregadas, porteiros, babás e dentre outros, são pessoas inferiores
e têm o dever de servi-los incondicionalmente.
A
visão da família que vai aos ambientes com a babá toda de fardinha para marcar
que ela não é membro da família, mas uma mera serviçal é mais comum do que
imaginamos. Empregada se veste diferente, come separada e usa banheiro
diferente, para que a genitália da serviçal, mesmo que indiretamente, jamais
toque a da outra.
A
intenção nefasta que está por trás desse tipo de comportamento é sempre
diferenciar, segregar, não misturar, o sangue, a presença, pois a faz descer o nível,
a deixa impura e o nome disso é eugenia, o que moveu Hitler ao massacre de
milhões de judeus e a implantação do nazismo que privilegiava uma raça pura,
inteligente e elevada, a ariana.
Getulio Freitas
Bacharel em Administração de Empresas
Pós-Graduando em Direito Constitucional e Tributário
0 Comentários:
Postar um comentário